Curioso esse nuereguês, com sua eficácia assassina, tenha citado a maior qualidade do Brasil como uma das razões de sermos um país "desfuncional".
Vinha pensando em escrever sobre a mestiçagem desde que vi o filme "Incêndios". Sim, porque naquele filme toda a tragédia começou porque um muçulmano e uma cristã libaneses não podiam e, creio eu não podem ainda, se apaixonar, casar e ter filhos. os Aquele caldeirão de aldeias de cristãos ortodoxos russos, cristãos maronitas, muçulmanos xiitas, muçulmanos sunitas vive sem se misturar!!!!
E o pior: eles devem achar assim o jeito certo. Ou seja, o problema da pureza racial e cristã defendida pelo branquelo noruegues e sua turma espalhada pela Europa também existe no Oriente Médio, mas lá o problema é o da religião porque todo mundo lá e mais ou menos semita....não ia colar...
Acho que o grande valor da sociedade brasileira vem disso. Essa é a nossa característica que faz eu acreditar sim em uma espécie de nossa "missão civilizatória brasileira" para com o mundo. Sim, pode parecer exagero, porque obviamente não deixamos ainda de ser racistas. Mas somos tão misturados, tão sem crises por conta de religiões, por conta de purezas culturais estúpidas...É aí que eu coloco esperanças de superação... Temos um problema sério de classe. Também pudera com tão poucos tendo tanto. Mas chegando a esse nó e resolvendo, inicialmente com a tal reforma agrária, daríamos um banho no mundo e nesses branquelos com sua eficácia assassina, sua racionalidade instrumental estúpida.
Xôo branquelos! Até parece que vcs não são mestiços!
domingo, 31 de julho de 2011
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Dar-se conta
Interessante ler Caetano falar da nossa imprensa entranhada na oligarquia e de sua preferência pela herança de Getúlio em detrimento do udenismo. O bom dos microfones amplificados de pessoas como Caetano é que o óbvio estridente não-dito passa a ser dito. E sem lugar-comum.
Nem sempre precisamos concordar com ele. Mas é bom ser convidado a ver através de sua perspectiva.
A arena pública é realmente importante. Mas nem sempre no Brasil ela é arejada. Aliás, quase sempre é sufocada pelos golpes midiáticos usuais. O falar de tanta coisa se falar de nada. Do essencial. Da natureza oligárquica da nossa sociedade. Do fato de que os 0,001% da população, as 5.000 famílias que controlam 40% do PIB do Brasil se conhecerem, se articularem bem e organizarem para que tudo continue como está. Para que as mudanças que ocorrem no Brasil não afetem o fato de que este país continental funciona em função dos interesses deles.
Nem sempre precisamos concordar com ele. Mas é bom ser convidado a ver através de sua perspectiva.
A arena pública é realmente importante. Mas nem sempre no Brasil ela é arejada. Aliás, quase sempre é sufocada pelos golpes midiáticos usuais. O falar de tanta coisa se falar de nada. Do essencial. Da natureza oligárquica da nossa sociedade. Do fato de que os 0,001% da população, as 5.000 famílias que controlam 40% do PIB do Brasil se conhecerem, se articularem bem e organizarem para que tudo continue como está. Para que as mudanças que ocorrem no Brasil não afetem o fato de que este país continental funciona em função dos interesses deles.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Um dia
Dia Primeiro de Julho foi um dia significativo para mim. Comecei-o em uma manifestação em homenagem ao jovem turista francês que caiu do bondinho nos Arcos da Lapa. Homenageamos Charles Damien Pierson com 24 balões brancos pelos 24 anos de sua vida, ceifada de modo absurdo no dia 24 de junho, uma semana antes.
Ao vermos os balões brancos sumindo no céu azul do Rio de Janeiro, todos experimentamos essa coisa inefável que chamo de transcendência. É nesses momentos que sentimos sermos partes de algo maior, imensamente humano, que se manifesta na reunião em torno de algo comum, por ritualizarmos um acontecimento triste, mas imprimindo um sentido coletivo a ele. Não era só a tragédia que acometeu a família desse rapaz. Seus amigos. É uma tragédia que tem a ver com todos nós que corremos esse risco. Que lutamos incessantemente para que ele não exista. Não a esse ponto!
Depois voltamos para o nosso cotidiano, esse que nos absorve a todos, mas acho que mais inteiros.
Voltei para a minha vida doméstica, mas depois de escutar um trecho do Hino Nacional e da Marselhesa ao lado daquela que é talvez a construção mais antiga do Rio de Janeiro, os Arcos da Lapa, nada deixaria de ser transcendente.
Muitos moradores de Santa Teresa não têm carros e, fazer grandes compras em um supermercado na Rua Riachuelo pode significar ir de táxi. Mas, curiosamente, no caixa, encontrei uma vizinha do bairro. Lembrava dela por causa de sua cachorrinha que encantava o meu nobre Pituca. Conversamos sobre eles. A sua mascote também tinha morrido. E,obviamente, rachamos o transporte para vir para cá. Não nos conhecíamos. Nunca tínhamos conversado. Mas o viver em comum em uma determinada localizada nos aproximava.
Em casa, enviei fotos para a jornalista do Portal da Record que tinha me ligado em pleno supermercado, sem caneta. Horrível andar sem caneta. Devo ter feito um escândalo no supermercado, pois falo alto pelo telefone. Mas o esforço valeu. Publicaram a notícias e as fotos. Também no site do Globo.
E a transcendência continuou nesse dia. Peguei minha filhota na creche. Dormiu sozinha. Raro. Ajudei-a com a presença. Não com meu leite. É tão bom ver ela crescendo bem. Mas essa tarde eu tinha que dar a última dose da vacina chata. A que pode ficar dolorida e dar febre. Uma tortura para as mães.
Como ela dormiu bem à tarde, fomos quase as últimas a chegar no Posto de Saúde. A enfermeira sempre com cara de poucos amigos. E, pior, a fofa se lembrou dela. Chorou antes, mas se conformou. Eu, sério, rezei. E fiquei dizendo na hora da temível picada. “Não vai doer. A enfermeira tem mão boa!”. O choro, o grito veio. Mas foi breve. A pequena é durona.
Não gostei do resultado. Achei sua perna marcada quando fui checar na pracinha,durante o passeio-presente pelo incômodo da vacina.
Mas como era efetivamente um belo dia, Agatha passou incólume. E eu terminei esse dia com a minha mão em cima do coraçãozinho dela, enquanto ela pegava no sono, sentindo-me uma mulher muito, muito antiga. O bater do coração dela me transportou para muito longe. Depois me lembrei que a Clarice Lispector é quem me ensinou essa sensação em uma crônica que ela descreve seu filho comendo um picolé de chocolate. Nesses momentos a gente tem uma compreensão intensa e feliz da vida. Afinal, felicidade são esses bocados de transcendência que a gente experimenta de vez em quando. Quando tudo faz sentido. E é no viver juntos, na luta do mundo da vida que a gente consegue efetivamente transcender, ter uma visão holística de nossos gestos cotidianos. Isso se intensifica quando ritualizamos, imprimimos sentido ao sem sentido, mas não centrados em nós mesmos, mas nos Outros. No Outro íntimo e no Outro coletivo.
Quando, enfim, saímos do nosso umbigo.
Ao vermos os balões brancos sumindo no céu azul do Rio de Janeiro, todos experimentamos essa coisa inefável que chamo de transcendência. É nesses momentos que sentimos sermos partes de algo maior, imensamente humano, que se manifesta na reunião em torno de algo comum, por ritualizarmos um acontecimento triste, mas imprimindo um sentido coletivo a ele. Não era só a tragédia que acometeu a família desse rapaz. Seus amigos. É uma tragédia que tem a ver com todos nós que corremos esse risco. Que lutamos incessantemente para que ele não exista. Não a esse ponto!
Depois voltamos para o nosso cotidiano, esse que nos absorve a todos, mas acho que mais inteiros.
Voltei para a minha vida doméstica, mas depois de escutar um trecho do Hino Nacional e da Marselhesa ao lado daquela que é talvez a construção mais antiga do Rio de Janeiro, os Arcos da Lapa, nada deixaria de ser transcendente.
Muitos moradores de Santa Teresa não têm carros e, fazer grandes compras em um supermercado na Rua Riachuelo pode significar ir de táxi. Mas, curiosamente, no caixa, encontrei uma vizinha do bairro. Lembrava dela por causa de sua cachorrinha que encantava o meu nobre Pituca. Conversamos sobre eles. A sua mascote também tinha morrido. E,obviamente, rachamos o transporte para vir para cá. Não nos conhecíamos. Nunca tínhamos conversado. Mas o viver em comum em uma determinada localizada nos aproximava.
Em casa, enviei fotos para a jornalista do Portal da Record que tinha me ligado em pleno supermercado, sem caneta. Horrível andar sem caneta. Devo ter feito um escândalo no supermercado, pois falo alto pelo telefone. Mas o esforço valeu. Publicaram a notícias e as fotos. Também no site do Globo.
E a transcendência continuou nesse dia. Peguei minha filhota na creche. Dormiu sozinha. Raro. Ajudei-a com a presença. Não com meu leite. É tão bom ver ela crescendo bem. Mas essa tarde eu tinha que dar a última dose da vacina chata. A que pode ficar dolorida e dar febre. Uma tortura para as mães.
Como ela dormiu bem à tarde, fomos quase as últimas a chegar no Posto de Saúde. A enfermeira sempre com cara de poucos amigos. E, pior, a fofa se lembrou dela. Chorou antes, mas se conformou. Eu, sério, rezei. E fiquei dizendo na hora da temível picada. “Não vai doer. A enfermeira tem mão boa!”. O choro, o grito veio. Mas foi breve. A pequena é durona.
Não gostei do resultado. Achei sua perna marcada quando fui checar na pracinha,durante o passeio-presente pelo incômodo da vacina.
Mas como era efetivamente um belo dia, Agatha passou incólume. E eu terminei esse dia com a minha mão em cima do coraçãozinho dela, enquanto ela pegava no sono, sentindo-me uma mulher muito, muito antiga. O bater do coração dela me transportou para muito longe. Depois me lembrei que a Clarice Lispector é quem me ensinou essa sensação em uma crônica que ela descreve seu filho comendo um picolé de chocolate. Nesses momentos a gente tem uma compreensão intensa e feliz da vida. Afinal, felicidade são esses bocados de transcendência que a gente experimenta de vez em quando. Quando tudo faz sentido. E é no viver juntos, na luta do mundo da vida que a gente consegue efetivamente transcender, ter uma visão holística de nossos gestos cotidianos. Isso se intensifica quando ritualizamos, imprimimos sentido ao sem sentido, mas não centrados em nós mesmos, mas nos Outros. No Outro íntimo e no Outro coletivo.
Quando, enfim, saímos do nosso umbigo.
sábado, 2 de julho de 2011
Mulheres no Brasil
Acho que a forma como a mulher é tratada no Brasil é produto da lascívia portuguesa com a naturalidade indígena. Sim, porque como os índígenas brasileiros, vivemos com nossos corpos expostos. Mas, se as índias falam e pensam o tempo todo naquilo...e mantêm uma sexualidade aparentemente mais livres, seus corpos não expressam esse apelo, mesmo nus. Elas não expõem seus corpos como o fazem as mulheres da chamada "sociedade nacional", com o tapa-mostra sensual do corte, por exemplo, dos biquinis cariocas. Basta vc pensar na tecnologia que está por trás deles. E basta compará-los com os biquines usuais das estrangeiras que percorrem nossas praias.
Talvez não haja país onde se exponha de maneira mais intensa o corpo de suas mulheres como o Brasil.
E, no entanto, isso não significa maior emancipação para o gênero feminino, dado o número alarmante de estupros: uma mulher a cada minuto.
É que aqui, a lascívia portuguesa e o naturalismo indígena expôs o corpo das mulheres, mas não venho com qualquer antídoto ao machismo atávico dos homens brancos, que geralmente considera o corpo da mulher um território a ser explorado.
Talvez não haja país onde se exponha de maneira mais intensa o corpo de suas mulheres como o Brasil.
E, no entanto, isso não significa maior emancipação para o gênero feminino, dado o número alarmante de estupros: uma mulher a cada minuto.
É que aqui, a lascívia portuguesa e o naturalismo indígena expôs o corpo das mulheres, mas não venho com qualquer antídoto ao machismo atávico dos homens brancos, que geralmente considera o corpo da mulher um território a ser explorado.
Carta Manifesto da Marcha das Vadias de Brasília
Por que marchamos?
Em Brasília, marchamos porque em apenas cinco meses foram 283 casos registrados de mulheres
estupradas, média de duas estupradas por dia, e sabemos que há várias mulheres e meninas abusadas
todos os dias; marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de transporte público do
Distrito Federal, que nos obriga a andar longas distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para
proteger as várias mulheres que são violentadas ao longo desses caminhos.
No Brasil, marchamos porque cerca de 15 mil mulheres são estupradas por ano, e, mesmo assim nossa
sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro. Marchamos porque nos colocam
rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV e utilizam nossa imagem semi-nua
para vender cerveja como se fossemos o próprio objeto de consumo; marchamos porque vivemos em uma
cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo e
nos rotulando em “santas” ou “putas”; marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização
de nossos corpos se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e
filhos; marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas e estupradas pelos senhores
são hoje empregadas domésticas e continuam sendo estupradas pelos patrões. Marchamos porque todas as
mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da
vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual.
No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela
expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento;
marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pelo estupro, quando são os homens que
deveriam ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas sofrem o chamado “estupro
corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um
desvio sexual; marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um
marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos
por homens sem seu consentimento, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazer nada por
nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.
Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadas de vadias porque
transamos antes do casamento, já fomos chamadas de vadias por dizer “não” a um homem, já fomos
chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomos chamadas de vadias
porque andamos sozinhas e fomos estupradas, já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e
sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, por um ou vários homens ao mesmo tempo, já fomos
chamadas de vadias quando torturadas e curradas durante a ditadura militar. Já fomos e somos
diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir. Se, na
nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos
todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de
qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossa sexualidade e aos nossos corpos. Estar no
comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e
por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus
corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes
foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda
mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e marcharemos até que todas
sejamos livres.
Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas, avós, putas, santas, vadias...todas merecemos respeito!
Em Brasília, marchamos porque em apenas cinco meses foram 283 casos registrados de mulheres
estupradas, média de duas estupradas por dia, e sabemos que há várias mulheres e meninas abusadas
todos os dias; marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de transporte público do
Distrito Federal, que nos obriga a andar longas distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para
proteger as várias mulheres que são violentadas ao longo desses caminhos.
No Brasil, marchamos porque cerca de 15 mil mulheres são estupradas por ano, e, mesmo assim nossa
sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro. Marchamos porque nos colocam
rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV e utilizam nossa imagem semi-nua
para vender cerveja como se fossemos o próprio objeto de consumo; marchamos porque vivemos em uma
cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo e
nos rotulando em “santas” ou “putas”; marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização
de nossos corpos se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e
filhos; marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas e estupradas pelos senhores
são hoje empregadas domésticas e continuam sendo estupradas pelos patrões. Marchamos porque todas as
mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da
vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual.
No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela
expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento;
marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pelo estupro, quando são os homens que
deveriam ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas sofrem o chamado “estupro
corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um
desvio sexual; marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um
marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos
por homens sem seu consentimento, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazer nada por
nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.
Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadas de vadias porque
transamos antes do casamento, já fomos chamadas de vadias por dizer “não” a um homem, já fomos
chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomos chamadas de vadias
porque andamos sozinhas e fomos estupradas, já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e
sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, por um ou vários homens ao mesmo tempo, já fomos
chamadas de vadias quando torturadas e curradas durante a ditadura militar. Já fomos e somos
diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir. Se, na
nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos
todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de
qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossa sexualidade e aos nossos corpos. Estar no
comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e
por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus
corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes
foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda
mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e marcharemos até que todas
sejamos livres.
Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas, avós, putas, santas, vadias...todas merecemos respeito!
Assinar:
Postagens (Atom)