terça-feira, 13 de outubro de 2009

O MST e a Cutrale

Já faz tempo que o MST deveria ter se dado conta de que menos pode ser mais. Em outras palavras. Seria melhor do que fazer ocupações com 250 famílias, juntar 20 bons militantes, que sabem direitinho o que estão fazendo, para empreender uma ação simbólicamente forte. Não precisa de muita gente para fazer isso. Basta ter imaginação. Esse problema de sempre "juntar pobre" e cada vez "mais pobre" é que nesse bolo vem de tudo. E geralmente a metade do acampamento não sabe direito o que está fazendo ali. Fora aqueles que querem se aproveitar da situação para tirar as suas lasquinhas. Depois não dá para reclamar de infiltrações, etc. É óbvio que o MST vai sempre estar sujeito a essas "cascas de banana". Tem que saber evitar. E ações no Estado de São Paulo tem um poder de repercussão grande. Tem que ser muito cuidadoso com isso.
Por outro lado, aplaudo todas as tentativas de denunciar grilagens do país e acho até que se o Estado brasileiro tivesse vontade política para fazer reforma agrária bastava verificar nos cartórios o que é terra com dono legítimo e o que é terra do Estado e já resolvia o assunto. Dizem que tem pelo menos três Mato Grossos em títulos, e deve ter o mesmo no Pará...
Mas o problema é que a tal da ação na área dos laranjais da Cutrale foi sim uma opção completamente infeliz.
Houve um problema de tempo. As imagens saíram em rede nacional na segunda e eu, que recebo mensagens de vários militantes do MST, só fui a saber por que diabos tinham destruído aqueles laranjais na quarta. Até então, fiquei achando que era ação de uma "quinta coluna" do MST.
Que diabos, em plena discussão sobre a aprovação dos índices de produtividade, uma semana depois da divulgação de dados do Censo Agrário tão amplamente favoráveis à agricultura familiar, por que fazer uma ação tão estúpida?
Sim, porque ninguém gosta de ver trabalho sendo destruído. Pode ser trabalho em terra grilada, mas é trabalho. Muita gente ficou horrorizada com a destruição da pesquisa de 20 anos da Aracruz.... e a pesquisadora chorando... Era trabalho. Trabalho tem que ser respeitado. Pode ser de empresa exploradora, não importa... Esse não é um bom alvo. E não era um bom momento.
E depois começaram a vir os textos em apoio à ação do MST. Em um deles, de autoria de Osvaldo Russo, ele denuncia o fato de a sociedade ter se escandalizado com a destruição dos laranjais, mas não costumar dar a mínima para os enormes números trabalhadores encontrados em condições análogas à escravidão, com a não aprovação de uma atualização dos índices de produtividade, que ainda são de 1975, e que hoje sofre renhida oposição da bancada do agronegócio, curiosamente sempre tão orgulhosa de seus feitos produtivistas..
O que tanto o MST e Russo esquecem é que estamos falando de uma sociedade que tolera a escravidão, a grilagem, enormes faixas de terras improdutivas, etc. E portanto, essas situações não escandalizam mesmo. É papel dos movimentos sociais questionar esses valores, essa orientação da sociedade para transformá-los... Mas tem que saber dialogar com essa sociedade. Convencê-la. E não vai ser destruindo trabalho que vão conseguir isso.
Agora, também não me venham com essa conversa de que "para mim, o MST acabou". Saída fácil. Obviamente o MST é um movimento incômodo, porque a reforma agrária é incômoda nesse país construído em cima da grilagem e do monopólio da terra. É facil dizer, bom, agora que eles fizeram essa enorme estupidez, melhor que sumam do mapa. É o que deixaria muitos aliviados.. para não ter que ver esse incômodo constante....que joga na cara desta sociedade louca para esquecer, que essa dívida social, sim, tem que ser resgatada. E viva o MST por sempre nos lembrar disso.