segunda-feira, 2 de março de 2015

Rio: 450 anos da vedete linda de morrer, mas pouco confiável, segundo Negra Lugones

450 anos de contradições cariocas. Cidade enganadora, mas sempre pulsante. Assistir a uma grande roda de samba em plena segunda-feira é o que faz o Rio ser o que é sempre. Samba bom, de vizinhança. Que cidade é essa que apronta das suas constantemente? Transcendência numa segunda-feira? 
Obrigada! Viva o Rio, que é Brasil em grau concentrado de beleza, contradições e, sim, momentos inigualáveis impossíveis de se imaginar em qualquer outra metrópole desta Terra. Que em algum momento, vc consiga se redimir junto de seu povo, pobre, mestiço, sua grande alma pulsante. Que vc sacuda a poeira e dê a volta por cima de seus vampiros, que replicam sempre injustiças silenciadas.
Ontem dei uma de estrangeira nos 450 anos da cidade, achando que à noite, o centro, a rua do Carioca, estaria em festa. Esqueci que a noite dos centros em fins de semana das metrópoles brasileiras são profundamente perigosas, enganadoras. Bateu aquele medo de ter entrado em uma fria. Mas fui relativamente bem acolhida. Eu e minha filha na Praça Tiradentes, sem maiores percalços além de um bar cheio e sem garçons suficientes.
Fossem outras as memórias recentes, e sim, a Rua do Carioca seria uma festa permanente em um domingo de 450 anos? Não sei.
Achava óbvio, mas as durezas e os perigos da cidade inibem maiores ousadias.
O Carnaval é o grande pretexto. E ele é só uma vez por ano. É o pretexto para ocupar as ruas do Centro em noites e fins de semana, nas belas ruas de casarios antigos do centro antigo, ainda milagrosamente salvo da especulação imobiliária e de ir ao chão.
E, sim, mesmo volta e meia furtados, o Carnaval permite sair do centro da cidade alegre, em festa.
O fato é que está cada vez mais raro suspender o cotidiano tão sem cerimônia como fazem os cariocas. Talvez a festa seja efetivamente o grande antídoto aos males que nos assolam. Ou, pelo menos, suspende o tempo para a gente não pensar neles. E assim, seguimos desafiando um pouco, pelo menos, a máquina de moer do cotidiano capitalista.
Isso não é mero detalhe.