sábado, 28 de abril de 2007
Greves na Dinamarca
Obviamente, me lembrei que isso também ocorreu há cerca de uns 20 anos atrás, quando vivi aqui . Me dei conta que apesar de todas as transformacões pela qual passou o mundo desde entao, a greve do canal de televisao continua a fazer parte do calendário anual deles.
No Brasil, uma greve na TV Globo seria, creio eu, o início de uma grande revolucao. Sinal verde para a tomada desse nosso potente "Palacio de Inverno".
Mas essa greve, na verdade, explica muito do que é esse pequeno país minúsculo, com 6 milhões de habitantes, a maioria dos quais detentor de um mastro de bandeira próprio, onde hasteam seu "pavilhão" nacional toda vez que fazem aniversário ou alguma festa familiar importante.
A Dinamarca é um país de tradicao igualitaria. Eles pagam cerca de metade do salario deles de impostos e, em troca, tem acesso a uma serie de servicos publicos de grande qualidade.
É um pais capitalista, mas nao existe grande diferenca social. O dono da multinacional Lego, cuja sede é em Billund, tinha aqui uma casa tao simples que nao chega aos pés de algumas casas de praia que a gente vê no Brasil. Obviamente que ele deve ter imóveis espalhados pelo mundo, mas aqui é simplesmente muito feio ostentar riqueza.
Eles tambem tem uma tradicao imressionante de estabilidade. A Rainha Margarethe faz parte de uma dinastia que reina a Dinamarca desde o século X, que em alguns periodos governou todo o território escandinavo, ou seja, também a Suécia e a Noruega.
Eles eram os tais temidos vikings que dominaram parte da Inglaterra e da Franca (Normandia).
Quando morei aqui, com um casal de professores primarios, entendi a diferenca entre ser socialista de discurso e de prática. Eles, enquanto sociais-democratas dinamarqueses, possuem uma maneira de se relacionar com o mundo, que revela no cotidiano sua opcão política.
Na epoca, antes da queda do muro, era possível aprender tanto o russo como o inglês na escola secundaria, além obviamente de latin, alemão e francês. Meu amigo e "irmão" dinamarquês fez uma viagem para a Russia, trazendo vários posteres com a esfinge de Marx, Lenin, etc. Pediu para eu escolher qual eu queria e, obviamente, preferi o velho Marx barbudo que foi parar, anos depois, no Alojamento do MST em São Paulo.
Também acompanhei um debate acirrado entre os estudantes da minha escola. O movimento estudantil dinamarques estava organizando o que eles chamavam de Operacao Dagsverk. Seria um dia de feriado da escola para que os estudantes trabalhassem em algum lugar. O salário desse dia seria destinado para ajudar o povo nicaraguense e o então regime sandinista. A escola se dividiu em relacao ao objetivo para o qual este dinheiro seria empregado. De um lado os conservadores, do outro os socialistas. O que mais me chamou atencao no debate é que foi a partir desse dia que eu descobri que os socialistas e os conservadores aqui nao se distinguiam apenas ideologicamente. Eles se vestiam de maneira diferente. Nesse dia, a opcao de esquerda acabou vencendo e eu adorei colaborar de algum modo com a revolucao sandinista a partir da Dinamarca.
segunda-feira, 23 de abril de 2007
A direita dura e a fraqueza das esquerdas
O voto dos franceses deu vitória ao candidato da direita dura, Nicolas Sarkozy que vai enfrentar a candidata da esquerda light, Ségolène Royal. Serão portanto os votos que foram para o candidato dito de centro, Nicolas Bayrou, que ficou em terceiro lugar, com 18,55% dos votos os que decidirão esta eleição.
Sarkozy é um animal político, fala bem em público e sabe manejar o imaginário de uma França aparentemente acossada por ameaças a sua suposta "identidade nacional". Filho de imigrantes húngaros, se notabilizou por sua política implacável contra os novos imigrantes. Em suma, não quer dar aos novos chegados os benefícios que sua família obteve ao escolher esse país para viver. Sua família fugiu do comunismo, portanto, tudo indica que ele não é de origem pobre como os milhares de sans-papier volta e meia humilhados por policiais em lugares públicos. Para não dizer que ele é contra todos os imigrantes, tem uma porta-voz de origem árabe de defende políticas de discriminação positiva ao estilo norte-americano.
Ségolène, além de bonita, é provavelmente competente, mas fala muito mal em público e representa o partido de esquerda que fez as reformas que a direita queria fazer... Afinal, foi o Miterrand e seu Partido Socialista quem começaram as privatizações e as reformas liberalizantes da França.
Derrota amarga, entretanto, sofreu a maior força de esquerda até a eleição de Miterrand, o Partido Comunista Francês, que não chegou a 2% dos votos nesse 1º turno. Mas pelo visto recebem também o troco por trocarem suas convicções claras por práticas neoliberais. Me contaram que eles participaram do último governo socialista e indicaram o Ministro dos Transportes que foi o responsável pela privatização das rodovias na França.
Se a vitória de Sarkozy era esperada, a cifra, de mais de 30% dos votos, surprendeu. Entretanto, ao "lepenizar" o debate eleitoral, Sarkozy acabou tomando votos do líder da extrema-direita francesa, Jean Marie Le Pen, cuja passagem para o segundo turno das últimas eleições presidenciais, em 2002, traumatizou os franceses. Desta vez, em detrimento dos candidatos mais radicais, os partidários da esquerda resolveram apostar as fichas no voto útil
O candidato da "esquerda da esquerda" mais votado, o jovem Olivier Bensancenot, tem uma bela carreira pela frente. É carteiro de profissão e não deixou seu trabalho enquanto fazia campanha. Segundo alguns comentários, é o único que sabe fazer frente aos jornalistas, questionando as próprias questões colocadasa a ele e explicitando como essas questões conduzem a um certo tipo de resposta. Pelo visto, o rapaz é pedagógico e sua clareza garantiu que ele amealhasse mais de 4% de votos.
Seu partido, entretanto, foi um dos que ajudou a naufragar a tentativa de construção de uma candidatura unificada da extrema esquerda, pois insistiu que todas as correntes assinassem um compromisso de que se a candidata socialista vencesse as eleições, eles não participariam do governo. Essa proposta causou uma cisão que aparentemente foi aproveitada pelos comunistas, mais treinados no aparelhismo, que acabaram conseguindo impor sua candidata Marie-Jorge Buffet. Foi neste contexto que José Bové acabou também saindo como candidato, aumentando ainda mais a lista dos indicados dessa tal “esquerda da esquerda”. Ele, entretanto, chegou aos míseros 1,32 % de votos.
Como observam alguns analistas, o problema na França não é a direita. Ela está seguindo sua cartilha e suas convicções. Já a esquerda, embora tenha capacidade de protagonizar manifestações enormes como as do ano passado contra a precarização do trabalho dos jovens, não consegue apresentar uma proposta, uma alternativa comum que vença o programa e a sedução da direita em um pleito eleitoral. O jeito talvez seja esperar para ver se a França vai novamente encher suas ruas quando Sarkozy, balizado por uma possível vitória eleitoral, aplicar todo seu programa de governo.
Em suma, o que este turno acabou demonstrando é a força de uma maioria silenciosa que, aparentemente indiferente, tem poder para eclipsar o barulho que a esquerda francesa soube, ao longo de sua história, colocar nas ruas.
As eleições na França - Primeiro Turno
Para um turista desavisado, o dia do 1º turno das eleições presidenciais francesas poderia passar por um domingo ensolarado qualquer de Paris. As feiras livres funcionaram normalmente, os parques estavam lotados, os restaurantes e bares cheios.
Nada indicava nas ruas e espaços públicos que 84% dos franceses tinham comparecido às urnas batendo o recorde da V República (iniciada em 1958).
Aqui o voto não é obrigatório, mas as pessoas que não estão nos locais em que são registradas podem mandar uma procuração para alguém votar em seu lugar no dia da eleição. Ou seja, se você é registrado em outra cidade, ou mesmo em outro país, seu voto vale do mesmo jeito, enquanto cidadão francês, se você mandar uma procuração para alguém cumprir a sua vontade. Na tradição brasileira, onde a compra de votos continua sendo um hábito rotineiro, essa prática é impensável. Mas aqui, pelo visto não ocorre a ninguém que o destinatário da procuração possa fazer mal uso dela. Sinais de uma democracia sólida, mas honestamente, ontem fez falta um burburinho eleitoral. Só vi uma fila em uma escola e não havia sequer boca de urna. O máximo que vi foi um cidadão ligando para um amigo para tentar convencê-lo a ir votar.
O que de fato não tem aqui e não deveria fazer parte da nossa cartilha eleitoral é esse um mês de propaganda eleitoral gratuita na TV, que custa rios de dinheiros em maracutais , justificando mensalões e mensalinhos de todos os tipos, enchendo os bolsos de publicitários, marketeiros e aspones em um país repleto de miseráveis como o Brasil.
domingo, 8 de abril de 2007
O cosmopolitismo e a onipresença da MPB
Manhã em supermercado. Rádio como fundo musical. Começa a tocar uma música, a introdução conhecida. Chico Buarque, fim da década de 60.
Pic-nic no Champ de Mars, ao lado da eterna Torre Eiffel. Ponto de encontro? Roda de capoeira.
Pizzaria da esquina? Sim. Tem que ter alguma perto da Cité Universitaire. Show de quintas e domingos? Grupo brasileiro. Samba. MPB.
Carnaval parisiense? 500 anos de tradição? Sim, é o desfile do Boef Gras, ou seja um boi de verdade enfeitado é Abre-Alas, seguido por um grupo musical composto sobretudo por instrumentos de sopro. Música alegre, mas sem ritmo.
Mas atrás, sucedem-se vários grupos de batucadas brasileiras de todos os tipos.
Pois é, apesar da mania de unidade nacional, os franceses ainda não desenvolveram a técnica da bateria unificada que torna tão impressionante o carnaval nas passarelas brasileiras . Mas, enfim, subimos a bela colina de Bellevile, tendo por horizonte a Torre Eiffel, e conseguimos brincar algum carnaval.
Conta-se que no século passado o Carnaval de Paris era coisa muito chique. Bailes organizados para a nata parisiense. A burguesia em ascensão queria ter manifestações culturais próprias, que lhe distinguisse da nobreza. Assim, aproveitou-se dessa tradição medieval para inventar seus suntuosos bailes de carnaval. O desfile do Boi Gordo, no entanto, volta e meia foi proibido tanto por monarquistas como republicanos.... E a periferia de Paris obviamente imitava o carnaval de sua elite, fazendo bailes que a elite parisiense adorava cheretar.
Foi inclusive imitando essa festa da grande burguesia parisiense que o Carnaval, da forma como conhecemos, desembarcou no Rio de Janeiro... onde, até então, a festa mais popular era a do Divino.
Esses são alguns dos exemplos da onipresença da música e da cultura brasileira em uma cidade altamente cosmopolita como Paris.
Não precisamos ficar com saudades. A música e a cultura do Brasil está onipresente nessa cidade, onde os brasileiros são a maioria dos imigrantes latino-americanos.
Fui a um concerto de uma cantora brasileira. Era seu aniversário e vários músicos presentes na platéia deram uma canja, tornando o concerto ainda mais sofisticado. Flauta, sax, um cantor norte-americano. Seus acompanhantes? Um grande violonista e um percussionista imaginativo, que usa todo uma acomplado de instrumentos de percussão para dar conta de toda gama de ritmos que ele precisava tocar, do samba à bossa nova, do forró a um rock abrasileirado do Lenine. Impressionante. Fui parabenizá-lo no final, impressionada com sua habilidade. Ele me agradeceu, observando: "E olha que eu sou um um francês puro."
Estranhei a observação, mas pensei cá com meus botões que ele talvez quisesse se justifucar. Apesar de ser um francês puro... eu posso, viu?
Pois é, provavelmente a grande marca cultural brasileira é o fato de a gente ter realmente se misturado em épocas de racismos fascistas. Além disso, optamos por celebrar as manifestações culturais de evidentes raízes africanas no caldo em que se formou nossa identidade nacional.
Afinal, o que é que pode diferenciar um brasileiro de classe média urbana socializado no mundo globalizado de hoje?
A expressividade da África, já mestiçada no Brasil, que é celebrada toda vez que jogamos um pouco de bebida para o santo e nos deixamos levar pelos vários tipos de batucadas marotas que foram sendo inventadas ao longo dessa rica história musical.
E Oxalá (que vem de uma expressão muçulmana... que tem obviamente o Ala no meio...) a gente continue deixando eles meio constrangidos por não terem se misturado tanto...
sábado, 7 de abril de 2007
RER e a "revolução permamente"
No RER andam, portanto, as pessoas que vivem na periferia, que não querem ou não podem pagar fortunas para viverem em poucos metros quadrados parisienses, ou os ploretários e e imigrantes. Foi justamente nessa periferia de Paris, para onde afluiu boa parte do êxodo rural francês que o Partido Comunista fez muitos governos, sendo algumas cidades dessas regiões conhecidas como "villes rouges", como Saint Denis, Montreuil, Bobigny.
Nos fins de semana e durante a noite, qualquer programa costuma ser organizado em torno do horário do último metro ou do último trem. Mas o metrô dentro de Paris recentemente passou a andar uma hora a mais no sábado à noite ou na véspera do feriado, o que significa que você ainda pode pegar um metrô 1:30 e chegar em casa tranquilamente, não importa quantas conexões você tenha que fazer.
Já no RER o horário continua o mesmo. O meu último trem passa tipo 12:46 na estação bem central de Paris, Les Halles.
Certa vez, voltando de uma festa, num dos últimos metrôs, escutei dois garotos conversando entre si sobre isso. Eles tinham acabado de dar de cara com a estação de trem fechada e estavam fazendo de tudo para ver se ainda conseguiam pegar algum trem. Eles comentavam entre si: " para a burguesia o metrô vai uma hora a mais, mas para os trabalhadores..."
Hoje o trem estava atrasado e obviamente a estação foi enchendo. Quando chegou o trem, quem conseguiu entrar ficou espremido no vagão como em uma lata de sardinha. Entretanto, algumas garotas já levemente bêbadas e espremidas no vagão como eu, começaram a fazer piada da situação. Uma delas, já meio levada pelos vinhos que tomou antes de pegar o trem, começou a cantar uma música popular, que tem em seus versos a expressã "revolução permanente". Foi a deixa para ela logo começar a frisar isso e descambar para o discurso político. "Vocês não acham que com o Sarkozy isso vai mudar, né?"
Quem conhece a sisudez dos parisiense certamente imagina que esse fato não aconteceu em Paris. Mas foi o que eu vi: jovens de diversas origens, esprimidos no vagão de um trem, fazendo piadas um com os outros.
Estamos a duas semanas das eleições, e eu acabei vendo mais uma manifestação política estilo francês, dessa vez no trem. Em uma parada ela acabou conseguindo entrar no vagão e o pessoal de lá pediu para ela cantar. Ela cantou de novo- para desespero de seus amigos - fez seu pequeno discurso, e foi aplaudida. Tudo no clima levemente boêmio de um fim de sábado à noite...
segunda-feira, 2 de abril de 2007
A panela de pressão e o direito à resistência
Além das diferenças culturais, muitos desses imigrantes se tornam mão-de-obra barata, disputando postos de trabalho com os locais que, por outro lado, em geral, não estão dispostos a fazer esses trabalhos.
A dificuldade que gerações sucessivas desses imigrantes encontram para se integrar plenamente na sociedade francesa faz aumentar cada vez mais a tensão, ao mesmo tempo em que as novas levas de imigrantes ilegais enfrentam frequentes situações de humilhação e prisão por parte das forças públicas, que empreendem hoje a política endurecida implementada por Sarkozy, a ponto de provocar o desabafo de alguns policiais que se sentem contrangidos de passarem a atuar não contra delinquentes, mas contra pacíficos e honestos pais de família
A aparente cordialidade francesa em relação ao seu atual multiculturalismo, na verdade, esconde dois tipos bem claros de posição que se dividem entre os que apoioam o Sarkozy, Le Pen, e os que apoiam os candidatos de esquerda.
Na terça-feira, dia 20 de março, um senhor chinês foi preso por um grande número de policiais, acompanhados de cachorros, enquanto se apressava para ir buscar um de seus netos em uma escola da região. A prisão, efetuada na frente de uma escola maternal, na Rua Rampal, indiginou os pais de outras crianças que se mobilizaram contra a detenção ostensiva e desnecessária, , tentando impedir inclusive com seus corpos diante dos carros, que ele fosse levado embora. Diante da reação dos pais, os policiais não hesitaram em partir para violência, usando inclusive gás lacrimogênio, que poderia ter atingido as crianças que saíam da escola naquele horário.
Na sexta-feira da mesma semana, a diretora da escola maternal Valerie Boukobza, onde ocorreu o choque entre a população e a polícia, foi presa e interrogada para prestar explicações sobre sua atitude, correndo risco de sofrer um processo por obstrução do trabalho da polícia. Na frente da delegacia, pais, alunos da escola se protestavam contra a detenção da diretora e contra ações ostensivas desse tipo, muitas das quais ocorrem na frente das escolas públicas, humilhando simples e pacíficos pessoas, frequentemente na frente de suas crianças. O episódio com o senhor chinês havia sido o segundo da semana na mesma rua, diante das mesmas escolas.
Na segunda-feira seguinte, dia 26, mais de mil pessoas , entre pais de alunos, professores, estudantes e representantes de associações como SOS Racismo e Rede de Educação Sem Fronteiras se reuniram na frente do reitorado de Paris (órgão responsável pela gestão das escolas) em protesto contra a detenção arbitrária da diretora da escola maternal Rampal na sexta-feira anterior. Valerie alegou ter tentado impedir a prisão do senhor chinês para cumprir com seu "dever de proteção das crianças e de seus pais", assim como por seu "direito a uma resistência pacífica a uma forma de opressão".
Na terça-feira, dia 27, foi a vez da Gare du Nord servir de palco para um quebra-quebra após a detenção de um congolês que pulou a catraca para não pagar o transporte, foi pego pelos controladores, mas reagiu aos policiais. A ação dos agentes serviu para acender o estopim que poucas horas depois resultou na destruição de vitrines de lojas, saques e enfrentamento físico entre jovens e o batalhão de choque. A Gare du Nord é, na verdade, uma panela de pressão. Quem passa por lá todos os dias conta que existem grupos de jovens de diversas origens que se reúnem lá diariamente e provavelmente, afim de uma boa confusão, aproveitaram o aumento da temperatura para encenar mais uma batalha com a polícia. Nunca sei obviamente para que serve isso. Para que engolir essa isca que aumenta ainda mais o estigma desses protestos e desses grupos sociais? Obviamente que o efeito desse quebra-quebra nos jornais no dia seguinte já foi sentido em termos de campanha presidencial, aparentemente com pontos positivos para a política endurecida do Sarkozy, que curiosamente havia deixado seu posto no Ministério do Interior justamente no dia anterior ao quebra-quebra na Gare du Nord. O candidato, por sinal, também tinha uma viagem marcada para o interior da França no dia seguinte, que saía justamente dessa estação, tendo a oportunidade de dar suas declarações indignadas contra os baderneiros de sempre justamente no tal campo da "batalha".
Em suma, a reação em apoio à resistência pacífica invocada pelos professores, pais de alunos e grupos organizados contra a crescente maré de prisões de imigrantes ilegais nas portas das escolas foi engolida pela bombástica atuação dos, talvez, "inocentes úteis" de sempre, expondo por outro lado, esse difícil e complexo processo de integração social e cultural que existe na França e nos demais países europeus em relação a essa nova maré de imigrantes pobres que vêm bater à sua porta em busca de melhores condições de vida.