segunda-feira, 23 de abril de 2007

A direita dura e a fraqueza das esquerdas

O voto dos franceses deu vitória ao candidato da direita dura, Nicolas Sarkozy que vai enfrentar a candidata da esquerda light, Ségolène Royal. Serão portanto os votos que foram para o candidato dito de centro, Nicolas Bayrou, que ficou em terceiro lugar, com 18,55% dos votos os que decidirão esta eleição.
Sarkozy é um animal político, fala bem em público e sabe manejar o imaginário de uma França aparentemente acossada por ameaças a sua suposta "identidade nacional". Filho de imigrantes húngaros, se notabilizou por sua política implacável contra os novos imigrantes. Em suma, não quer dar aos novos chegados os benefícios que sua família obteve ao escolher esse país para viver. Sua família fugiu do comunismo, portanto, tudo indica que ele não é de origem pobre como os milhares de sans-papier volta e meia humilhados por policiais em lugares públicos. Para não dizer que ele é contra todos os imigrantes, tem uma porta-voz de origem árabe de defende políticas de discriminação positiva ao estilo norte-americano.
Ségolène, além de bonita, é provavelmente competente, mas fala muito mal em público e representa o partido de esquerda que fez as reformas que a direita queria fazer... Afinal, foi o Miterrand e seu Partido Socialista quem começaram as privatizações e as reformas liberalizantes da França.
Derrota amarga, entretanto, sofreu a maior força de esquerda até a eleição de Miterrand, o Partido Comunista Francês, que não chegou a 2% dos votos nesse 1º turno. Mas pelo visto recebem também o troco por trocarem suas convicções claras por práticas neoliberais. Me contaram que eles participaram do último governo socialista e indicaram o Ministro dos Transportes que foi o responsável pela privatização das rodovias na França.
Se a vitória de Sarkozy era esperada, a cifra, de mais de 30% dos votos, surprendeu. Entretanto, ao "lepenizar" o debate eleitoral, Sarkozy acabou tomando votos do líder da extrema-direita francesa, Jean Marie Le Pen, cuja passagem para o segundo turno das últimas eleições presidenciais, em 2002, traumatizou os franceses. Desta vez, em detrimento dos candidatos mais radicais, os partidários da esquerda resolveram apostar as fichas no voto útil em favor de Madame Royal, a candidata que tinha mais chance de chegar lá.
O candidato da "esquerda da esquerda" mais votado, o jovem Olivier Bensancenot, tem uma bela carreira pela frente. É carteiro de profissão e não deixou seu trabalho enquanto fazia campanha. Segundo alguns comentários, é o único que sabe fazer frente aos jornalistas, questionando as próprias questões colocadasa a ele e explicitando como essas questões conduzem a um certo tipo de resposta. Pelo visto, o rapaz é pedagógico e sua clareza garantiu que ele amealhasse mais de 4% de votos.

Seu partido, entretanto, foi um dos que ajudou a naufragar a tentativa de construção de uma candidatura unificada da extrema esquerda, pois insistiu que todas as correntes assinassem um compromisso de que se a candidata socialista vencesse as eleições, eles não participariam do governo. Essa proposta causou uma cisão que aparentemente foi aproveitada pelos comunistas, mais treinados no aparelhismo, que acabaram conseguindo impor sua candidata Marie-Jorge Buffet. Foi neste contexto que José Bové acabou também saindo como candidato, aumentando ainda mais a lista dos indicados dessa tal “esquerda da esquerda”. Ele, entretanto, chegou aos míseros 1,32 % de votos.

Como observam alguns analistas, o problema na França não é a direita. Ela está seguindo sua cartilha e suas convicções. Já a esquerda, embora tenha capacidade de protagonizar manifestações enormes como as do ano passado contra a precarização do trabalho dos jovens, não consegue apresentar uma proposta, uma alternativa comum que vença o programa e a sedução da direita em um pleito eleitoral. O jeito talvez seja esperar para ver se a França vai novamente encher suas ruas quando Sarkozy, balizado por uma possível vitória eleitoral, aplicar todo seu programa de governo.

Em suma, o que este turno acabou demonstrando é a força de uma maioria silenciosa que, aparentemente indiferente, tem poder para eclipsar o barulho que a esquerda francesa soube, ao longo de sua história, colocar nas ruas.

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