sábado, 7 de abril de 2007

RER e a "revolução permamente"

RER são os trens suburbanos que cortam Paris. Como moro na Cité Universitaire e o ponto mais perto dela é um RER, sempre pego esses trens para ir e voltar para casa. A Cité ainda é dentro dos limites de Paris, mas a grande parte da população que circula no RER mora fora, nessas pequenas cidades que compõem o que no Brasil poderia ser chamado de a "Grande Paris".
No RER andam, portanto, as pessoas que vivem na periferia, que não querem ou não podem pagar fortunas para viverem em poucos metros quadrados parisienses, ou os ploretários e e imigrantes. Foi justamente nessa periferia de Paris, para onde afluiu boa parte do êxodo rural francês que o Partido Comunista fez muitos governos, sendo algumas cidades dessas regiões conhecidas como "villes rouges", como Saint Denis, Montreuil, Bobigny.
Nos fins de semana e durante a noite, qualquer programa costuma ser organizado em torno do horário do último metro ou do último trem. Mas o metrô dentro de Paris recentemente passou a andar uma hora a mais no sábado à noite ou na véspera do feriado, o que significa que você ainda pode pegar um metrô 1:30 e chegar em casa tranquilamente, não importa quantas conexões você tenha que fazer.
Já no RER o horário continua o mesmo. O meu último trem passa tipo 12:46 na estação bem central de Paris, Les Halles.
Certa vez, voltando de uma festa, num dos últimos metrôs, escutei dois garotos conversando entre si sobre isso. Eles tinham acabado de dar de cara com a estação de trem fechada e estavam fazendo de tudo para ver se ainda conseguiam pegar algum trem. Eles comentavam entre si: " para a burguesia o metrô vai uma hora a mais, mas para os trabalhadores..."
Hoje o trem estava atrasado e obviamente a estação foi enchendo. Quando chegou o trem, quem conseguiu entrar ficou espremido no vagão como em uma lata de sardinha. Entretanto, algumas garotas já levemente bêbadas e espremidas no vagão como eu, começaram a fazer piada da situação. Uma delas, já meio levada pelos vinhos que tomou antes de pegar o trem, começou a cantar uma música popular, que tem em seus versos a expressã "revolução permanente". Foi a deixa para ela logo começar a frisar isso e descambar para o discurso político. "Vocês não acham que com o Sarkozy isso vai mudar, né?"
Quem conhece a sisudez dos parisiense certamente imagina que esse fato não aconteceu em Paris. Mas foi o que eu vi: jovens de diversas origens, esprimidos no vagão de um trem, fazendo piadas um com os outros.
Estamos a duas semanas das eleições, e eu acabei vendo mais uma manifestação política estilo francês, dessa vez no trem. Em uma parada ela acabou conseguindo entrar no vagão e o pessoal de lá pediu para ela cantar. Ela cantou de novo- para desespero de seus amigos - fez seu pequeno discurso, e foi aplaudida. Tudo no clima levemente boêmio de um fim de sábado à noite...

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