quarta-feira, 20 de junho de 2007

Havaianas falsificadas

As havaianas com a bandeirinha do Brasil continuam a fazer os pés de europeus e européias nos dias de calor. O interessante é que agora você pode encontrar nas lojas os famosos chinelinhos brasileiros falsificados. Se o par autêntico anda pela casa dos 20 euros. O falsificado pode ser encontrado até a seis. O interessante é que se nota a falsificação nas bandeirinhas, que ficam meio borradas.
Até aí tudo bem. Os chineses andam por tudo. Não iam deixar as havaianas imunes ao seu savoir faire. E além disso, pelo que me consta, a marca pertence a uma multinacional norte-americana e se os chineses quiserem ganhar com isso, tanto faz. Os lucros não ficam mesmo com a gente.
O aspecto curioso é que o tipo de havaianas que faz sucesso na europa é com a bandeirinha nacional. Pés franceses, espanhóis, italianos, ingleses ostentando a nossa bandeira por aí.
Para nós, usar a bandeira é quase um exagero. Tenho uma camizeta verde e amarelo e sinto que me uniformizo se uso a bandeira nacional. Já os europeus devem achar legal ostentar o nosso panteão nacional nos pés.
Essa dificuldade de usar a bandeira fora das épocas de Copa do Mundo deve ser também um fator explicativo do nosso caráter nacional.
Para nós, a bandeira não é uma coisaligada ao nosso cotidiano, ao nosso íntimo, como para os dinamarqueses, que costumam ter um mastro próprio em casa para hastear sua bandeira em festas familiares. Qualquer aniversário dinamarquês é enfeitado com banderinhas vermelhas e brancas.
Para mim, embora considere bonito o chinelo com a bandeirinha, me parece meio exagerado usá-la.
Aqui em Paris, dada a existência do Le Pen, a bandeira nacional enfeita escolas, prédios públicos, mas também não é lá muito ostentada no cotidiano.
Mas ela é de fato muito mais presente na paisagem parisiense do que em qualquer cidade brasileira. Temos uma bandeira bonita. Diferente, mas, creio eu, ela não está tão colada ao nosso cotidiano porque ainda somos um país marcado por derrotas históricas. Como temos uma situação social catastrófica e violenta, que até hoje não tem perspectiva de ser resolvida, lidamos com uma certa vergonha nacional.
Os países cujo povo conseguiu ser protagonista de sua história, que promoveu algum tipo de reforma profunda ou revolução, creio eu, têm uma bandeira mais celebrada.
Esse é o caso, por exemplo, da Catalunha, cuja capital, Barcelona, enfeitada de bandeiras catalãs por todos os lados, embora tenha sido derrotada em sua vontade de autonomia plena, de se tornar um país totalmente independente da Espanha, orgulha-se do seu passado. Eles ao menos lutaram.

Um comentário:

Álvaro Santi disse...

Bem notado Débora,
Aqui no Estado do Rio Grande do Sul tem um detalhe adicional, que é nossa "autonomia imaginária".
Quem procurar encontrará mais bandeiras do RS do que do Brasil por aqui. Outros já perceberam que é o único estado em que se canta o Hino Rio-grandense em ocasiões solenes.
Em setembro, fica cada vez maior o contraste entre o volume de eventos alusivos à semana da pátria e à semana farroupilha (que na verdade já dura o mês todo).
Santi