quarta-feira, 1 de agosto de 2007

"Côté Fromage"

Cheguei no Brasil no dia 5 de julho e, desde então, enxergo a França e sua capital de longe, depois de ter me habituado com suas ruas, seu dia-a-dia, seu jeito de ser.
Paris é uma cidade evidentemente muito bonita e agradável de viver. Não chovesse tanto e ficasse tão frio ela seria uma eterna beleza. Capital de um império, ela foi pensada para ser bela e assim é mantida com orgulho por seu povo e por seu Estado nacional. Suas ruas requintadas, museus, monumentos, restaurantes e confeitarias arrebatadoras recebem cerca de 20 milhões de turistas todos os anos... classificados por meu pai de "os abobados de Paris".
Obviamente que com essa montanha de turistas, os parisienses não são considerados os mais simpáticos anfitriões do mundo. Mas ao contrário de sua fama mundial, eles foram geralmente simpáticos e até bem humorados durante a minha estadia. Depois de uma inicialmente ruim com uma vendedora de bilhetes de trem, que teve uma conclusão feliz graças ao atendimento de outra vendedora, em outra agência, resolvi cunhar a expressão "côté fromage" e me concentrar mais nela.
Todos os lugares e pessoas têm seus lados bons e ruins. Eu resolvi denominar o lado bom de Paris e da França de "côte fromage". Esse povo é inquestionavelmente bom nessa área: a dos queijos. Imgina que um dos queijos mais deliciosos que eles criaram, o Conté, é feito por uma associação de camponeses de uma região da França desde a Idade Média! Fico obviametne completamente encantada por isso... E como eu adoro queijo, dei esse nome ao lado bom deles. Resolvi não batizar o lado ruim... Talvez eu tenha tapado o sol com a peneira, mas é uma estratégia interessante de sobrevivência em países estrangeiros.
A verdade é que cheguei à conclusão que os franceses não andam assim tão distantes da gente . A única diferença grande mesmo é o fato de eles se levarem meio a sério demais.... o que diminui inconstestavelmente seu senso de humor.
Mas, para padrões europeus, eles sempre chegam atrasado (15 minutos é o padrão), não abrem instituições como bancos e correio na hora... e adoram serem insubordinados. As regras estão lá, mas se der para passar a perna, eles passam. Claro que, o grau de civilidade deles é mais alto. Esqueci meu chapéu duas vezes em lugares diferentes. Voltei, e ele estava lá.
Ninguém mexe no que pode ser de outro. Eles contam que a pessoa volte.
Eu esqueci meu chapéu por nem 10 minutos em um restaurante em São Paulo, e sumiram com ele.
Os parisienses são muito educados, embora de uma maneira distante. Mas tem uma coisa deles que eu incorporei. Acho até que eu era realmente uma grossa antes disso. Você não entra em algum lugar sem dizer "bonjour". Antes de te responder qualquer coisa, a pessoa do lugar espera sempre por esse "bonjour" que é também uma maneira de reconhecer que tem alguém ali, que essa pessoa existe, etc. Eu cansei de entrar em lojas para dar uma olhada discreta e sair no Brasil. Lá eles acham grosseria você entrar em algum lugar e não dizer o tal "bonjour". Fui perguntar o preço de uma coisa em uma espécie de "Americanas" de lá e a vendedora, antes de me responder, olhou para mim e exigiu: "bonjour", né???
De resto, eles gostam de trabalhar pouco, de jogar conversa fora nos botecos deles e fazer festa.
São divertidos e críticos. Só têm uma maneira diferente de se relacionar. Não sei se é um padrão anglo-saxão incorporado nas sucessivas invasões que eles sofreram de vikings, ingleses, etc. Eles não têm uma maneira fluída de se relacionar. Tudo tem que se agendado com antecedência. Tudo é programado. Não há lá muito espaço para o improviso. Essa necessidade de a gente saber um do outro, que é mais ou menos o que constrói a amizade, de ligar só para saber como anda a vida... saber novidades, creio que não rola. Pelo menos não em seis meses. O telefonema é feito de maneira sempre objetiva.
Os estrangeiros, portanto, que não fizeram amigos franceses na escola, na faculdade acabam encontrando uma sociedade aparentemente impermeável. Mas isso talvez seja o quadro comum de todo imigrante seja lá onde for. Aqui as amizades são mais fluídas à priori. Mas sabe-se lá se acabam não se tornando mais descartáveis e superficiais. Mas a verdade é que eu preciso dessa maneira fluída de me relacionar. Não gosto desse espaço que existe normalmente entre as pessoas nos países mais ao norte da Europa, como na Dinamarca. O dia-a-dia é mais leve, mais sociável. A França talvez fique nessa fronteira. Mas eu procurei sempre prestar mais atenção naquilo que lhes tornava mais próximos de mim, da minha cultura. E encontrei. Talvez o segredo do tal "côte fromage" seja esse: procurar sempre o que os outros têm de melhor. Aí se acha.

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