Cinema. Comédia francesa com cenário parisiense. Fim do filme. Qual a música? Ritmos bossa-novistas e sussurros musicais em francês.
Manhã em supermercado. Rádio como fundo musical. Começa a tocar uma música, a introdução conhecida. Chico Buarque, fim da década de 60.
Pic-nic no Champ de Mars, ao lado da eterna Torre Eiffel. Ponto de encontro? Roda de capoeira.
Pizzaria da esquina? Sim. Tem que ter alguma perto da Cité Universitaire. Show de quintas e domingos? Grupo brasileiro. Samba. MPB.
Carnaval parisiense? 500 anos de tradição? Sim, é o desfile do Boef Gras, ou seja um boi de verdade enfeitado é Abre-Alas, seguido por um grupo musical composto sobretudo por instrumentos de sopro. Música alegre, mas sem ritmo.
Mas atrás, sucedem-se vários grupos de batucadas brasileiras de todos os tipos.
Pois é, apesar da mania de unidade nacional, os franceses ainda não desenvolveram a técnica da bateria unificada que torna tão impressionante o carnaval nas passarelas brasileiras . Mas, enfim, subimos a bela colina de Bellevile, tendo por horizonte a Torre Eiffel, e conseguimos brincar algum carnaval.
Conta-se que no século passado o Carnaval de Paris era coisa muito chique. Bailes organizados para a nata parisiense. A burguesia em ascensão queria ter manifestações culturais próprias, que lhe distinguisse da nobreza. Assim, aproveitou-se dessa tradição medieval para inventar seus suntuosos bailes de carnaval. O desfile do Boi Gordo, no entanto, volta e meia foi proibido tanto por monarquistas como republicanos.... E a periferia de Paris obviamente imitava o carnaval de sua elite, fazendo bailes que a elite parisiense adorava cheretar.
Foi inclusive imitando essa festa da grande burguesia parisiense que o Carnaval, da forma como conhecemos, desembarcou no Rio de Janeiro... onde, até então, a festa mais popular era a do Divino.
Esses são alguns dos exemplos da onipresença da música e da cultura brasileira em uma cidade altamente cosmopolita como Paris.
Não precisamos ficar com saudades. A música e a cultura do Brasil está onipresente nessa cidade, onde os brasileiros são a maioria dos imigrantes latino-americanos.
Fui a um concerto de uma cantora brasileira. Era seu aniversário e vários músicos presentes na platéia deram uma canja, tornando o concerto ainda mais sofisticado. Flauta, sax, um cantor norte-americano. Seus acompanhantes? Um grande violonista e um percussionista imaginativo, que usa todo uma acomplado de instrumentos de percussão para dar conta de toda gama de ritmos que ele precisava tocar, do samba à bossa nova, do forró a um rock abrasileirado do Lenine. Impressionante. Fui parabenizá-lo no final, impressionada com sua habilidade. Ele me agradeceu, observando: "E olha que eu sou um um francês puro."
Estranhei a observação, mas pensei cá com meus botões que ele talvez quisesse se justifucar. Apesar de ser um francês puro... eu posso, viu?
Pois é, provavelmente a grande marca cultural brasileira é o fato de a gente ter realmente se misturado em épocas de racismos fascistas. Além disso, optamos por celebrar as manifestações culturais de evidentes raízes africanas no caldo em que se formou nossa identidade nacional.
Afinal, o que é que pode diferenciar um brasileiro de classe média urbana socializado no mundo globalizado de hoje?
A expressividade da África, já mestiçada no Brasil, que é celebrada toda vez que jogamos um pouco de bebida para o santo e nos deixamos levar pelos vários tipos de batucadas marotas que foram sendo inventadas ao longo dessa rica história musical.
E Oxalá (que vem de uma expressão muçulmana... que tem obviamente o Ala no meio...) a gente continue deixando eles meio constrangidos por não terem se misturado tanto...
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Um comentário:
Débora, teus comentários neste blog estão brilhantes.
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