sábado, 20 de fevereiro de 2016

O Quarto de Jack e o ponto de vista da criança



Tenho que procurar ir pelo menos uma vez por semana em um templo humanista chamado cinema.  Nos últimos tempos, geralmente não consigo. Mas sei exatamente o tipo de filme que  gosto. E quando vejo um desses,  fico desgustando as experiências que ele me trouxe. Ettore Scola, um dos meus diretores preferidos, que foi-se há pouco daqui, definiu o cinema mais ou menos como  “aduas horas  nas quais na escuridão e no silêncio, anjos e demônios disputam a nossa alma”. Portanto, a frequentar cinema é sim como uma espécie de religião, visto que promove que a gente saia do nosso mundo pessoa “para ocupar-se com qualquer coisa maior”.  E nos bons filmes, há sempre uma injeção de humanismo e transcendência.
Isso porque os grandes filmes, como os  grandes romances, seu processos de aprendizagem que fazem a gente verificar a nossa subjetividade, vivendo aquelas emoções,  interpretadas por outros, que nos fazem sentir aquelas sensações de modo a pensar sobre elas.
Por esta razão, os bons filmes são os que tem pelo menos dois planos, senão três: o enredo, a forma como é contado, ou seja a narrativa, e as múltiplas leituras que ele suscita.  Cada um o assiste com seu repertório.  E com ele dialoga agonisticamente com o que está assistindo
O filme, “O Quarto de Jack” é uma grande obra neste sentido, ao contar uma história triste que se repete infelizmente desde o início dos tempos, tendo como vítimas garotas. Mas este lugar é percorrido sob o ponto de vista de um menino. Uma mãe se desvelando para criar um mundo em um minúsculo quarto, sob o ponto de vista de seu  filho.  
Cenas geniais, fotografia comprometida com a narrativa e grandes atores em cena. O mais puro cinema, abrindo boas  perguntas sobre essa fascinante aventura da maternidade sob o ponto de vista de uma criança.

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