domingo, 21 de fevereiro de 2016

Pedro II e a Educação brasileira


Dia 19 de fevereiro, levei Agatha, minha filha para a inauguração de uma unidade do Pedro II, escola pública de excelência do Rio de Janeiro, onde, por obra da pura sorte, ela vai estudar a partir deste ano.
Foi sorteada. Ela e mais um total de no máximo umas 500 crianças.
Fiquei emocionada no saguão simples. Sem regalias. E encantada com as salas de atividades que ela vai ter oportunidade de desfrutar em seu aprendizado: sala de música, sala de literatura, sala de computadores, sala de ciências.
Ela amava o CEAT, a escola onde estava. E creio só  se convenceu que era uma boa ir para o Pedro II por conta dos esfuziantes parabéns que recebemos. Entendeu que devia ser algo muito bom.
Somos umas das poucas famílias brasileiras a desfrutar do benefício de ter uma escola pública, de qualidade, com professores dedicados, valorizados e uma estrutura sóbria,  modesta, mas com tudo que uma criança precisa para gostar de aprender.
Queria que houvesse Pedros II para TODAS as crianças brasileiras.
Agradeço muito a oportunidade que minha filha recebeu.
Mas a verdade é que a própria existência de uma instituição como o Pedro II demonstra que sabemos como se faz uma educação pública de qualidade. Ou seja, não existe mágica e fórmulas milagrosas. É desse jeito:  corpo docente com bom plano de carreira e valorizado, estrutura, etc. Não sei como o Pedro II conseguiu se manter e o “Julinho” em Porto Alegre, não.  O primeiro é federal. O segundo estadual. Mas e aí? Aplicando a racionalidade funcional de um consultor de gestão: basta replicar os procedimentos. E, óbvio: os recursos.
Sei que lá dentro as lutas existem para garantir que ele siga assim. E melhore. E talvez é isso que tenha faltado nas demais escolas públicas: não deixar a peteca cair. Os pais de classe média foram tirando  seus filhos quando as escolas foram piorando. E o problema, não sendo mais deles, foi seguindo ladeira abaixo. 
Sempre achei que se tivesse filhos tentaria colocá-los em escola pública para assumir também o compromisso de resgatá-la. Mas trabalho muito. Avaliei, quando a Agatha nasceu, que não teria tempo para isso. E é mais cômodo mesmo a gente encaminhar nossos filhos para as escolas particulares.
São várias as lutas que a gente deve travar cotidianamente. E esta eu não ia conseguir dar conta por conta do tempo e dedicação que seria necessário e por envolver ela.
Sim, porque eu tenho a possibilidade da escolha. Mas milhões não têm.
Por outro lado, com  a quantidade de impostos que a classe média paga neste país, como ela tolera ter perdido este serviço essencial, topando pagar fortunas para garantir um bom  futuro educacional  para seus filhos? Por que ela se retirou desta luta?
Sim, educação é um serviço essencial. E no estágio demográfico que está o país, não há nada mais importante para se investir. Nenhum PAC da vida se iguala à estratégia  embutida em um governo que prioriza a educação: investir nas pessoas e, sobretudo, nas crianças.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O Quarto de Jack e o ponto de vista da criança



Tenho que procurar ir pelo menos uma vez por semana em um templo humanista chamado cinema.  Nos últimos tempos, geralmente não consigo. Mas sei exatamente o tipo de filme que  gosto. E quando vejo um desses,  fico desgustando as experiências que ele me trouxe. Ettore Scola, um dos meus diretores preferidos, que foi-se há pouco daqui, definiu o cinema mais ou menos como  “aduas horas  nas quais na escuridão e no silêncio, anjos e demônios disputam a nossa alma”. Portanto, a frequentar cinema é sim como uma espécie de religião, visto que promove que a gente saia do nosso mundo pessoa “para ocupar-se com qualquer coisa maior”.  E nos bons filmes, há sempre uma injeção de humanismo e transcendência.
Isso porque os grandes filmes, como os  grandes romances, seu processos de aprendizagem que fazem a gente verificar a nossa subjetividade, vivendo aquelas emoções,  interpretadas por outros, que nos fazem sentir aquelas sensações de modo a pensar sobre elas.
Por esta razão, os bons filmes são os que tem pelo menos dois planos, senão três: o enredo, a forma como é contado, ou seja a narrativa, e as múltiplas leituras que ele suscita.  Cada um o assiste com seu repertório.  E com ele dialoga agonisticamente com o que está assistindo
O filme, “O Quarto de Jack” é uma grande obra neste sentido, ao contar uma história triste que se repete infelizmente desde o início dos tempos, tendo como vítimas garotas. Mas este lugar é percorrido sob o ponto de vista de um menino. Uma mãe se desvelando para criar um mundo em um minúsculo quarto, sob o ponto de vista de seu  filho.  
Cenas geniais, fotografia comprometida com a narrativa e grandes atores em cena. O mais puro cinema, abrindo boas  perguntas sobre essa fascinante aventura da maternidade sob o ponto de vista de uma criança.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O caos e a vulnerabilidade em Porto Alegre



Cheguei a Porto Alegre na manhã seguinte ao vendaval ou ciclone feito de raios que partiram grande parte da bela cobertura de árvores da cidade, na sexta à noite, dia 29 de janeiro de 2016.
Fora elas, retorcidas, partidas, no chão, foram mais ou menos cinco mortos pelo que ouvi. Pessoas hospitalizadas dependendo de respiradouros que falharam com a falta de luz. E um colombiano no trânsito.
Um colombiano perdido na minha cidade!
Vários bairros sem luz e água desde sexta-feira. Caos democraticamente espalhado por todas as classes sociais. E, cadê o Prefeito? Cadê alguma liderança que apareça centralizando as informações de algum modo em algum lugar? Dando pelo menos alguma aparência de coordenação das atividades? Pedindo verbas ao Governo Federal? Na verdade, se há um prefeito que não faz isso, para que prefeito? Sem acesso a luz, só o velho rádio como suporte.E sem rádio, nada. Uma cidade sem semáforos - que lá se chamam sinaleiras - funcionando nas suas principais vias.
Deu para ver a nossa vulnerabilidade e incapacidade de lidar com eventos climáticos que devem se tornar mais frequentes. Houve vários temporais o ano passado em Porto Alegre. Na verdade, sempre houve. No jornal diz que o Saint-Hilaire viu um do mesmo estilo. Mas então não tinha tanta gente, tanto fio elétrico.
Parece, segundo a atendente do aeroporto, que os americanos sabiam que ia acontecer o suposto ciclone na cidade. Contei isso ao taxista carioca que retrucou: pra que saber antes? Em suma, de que iria adiantar saber antes em um lugar completamente despreparado como estava Porto Alegre. Só ia causar pânico. E ninguém, como vemos agora, ia saber o que fazer mesmo. Pelo visto, o jeito é a gente se tranquilizar diante da nossa terrível vulnerabilidade.