sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Papa Francisco e os aparelhos privados de hegemonia

Nesta semana, o Papa Francisco se encontrou com lideranças de movimentos populares de todo mundo, entre eles, João Pedro Stédile, do MST, maior movimento social latino-americanos, que é efeito direto da aplicação da Teologia da Libertação no Brasil. Fui procurar no google com "Papa Francisco" se algo havia saído de interessante. Só encontrei  uma matéria que só assinantes do UOL podem ler com o título:Papa Francisco quer retomar uma Igreja "para os pobres".
Uns dias antes da eleição presidencial eu vi uma Marcha da TFP em plena Avenida Rio Branco, o Rio de Janeiro.  Um Papa desse estilo deve estar deixando a ala direita da Igreja Católica nervosa. Ainda por cima eles  têm que aguentar mais um Governo do PT,
Mas o que interessa aqui é refletir como e por que os nossos aparelhos privados de hegemonia controlados por 9 famílias não deram a devida publicidade a  esse encontro que o Papa Francisco teve com essas lideranças de movimentos populares de todo mundo que são sim, efeitos diretos de uma atuação mais plenamente cristã da Igreja Católica. Esse encontro é significativo para o Brasil. É significativo para todo o nosso continente, mas fraca atenção lhe deram. Por que será? Ignorância. Ma-fé política?
É por conta das prioridades das manchetes das notícias dos nossos jornais, revistas e noticiários televisivos que uma visão muito torpe dos processos sociais e políticos brasileiros  ocupa nossos horizontes sociais, inibindo catálises  que seriam bem-vindas para nosso país e talvez aprimorasse de fato nossa visão do destino que nós aplicamos para nós mesmos.
Estamos em um período socialmente anômico. A profusão de denúncias de corrupção nos faz crer que nunca houve tanta corrupção no país como hoje  durante a década petista. E de fato o que houve é que nunca antes desse período, membros importantes do partido que está no poder foram presos!
Antes, a corrupção endêmica ocorria, mas ninguém era preso.
Infelizmente, do modo como as denúncias estão sendo divulgadas, está se gerando  uma percepção social de que o vale-tudo é que manda.
E, no entanto, estamos em um período politicamente rico, de experimentos sociais importantes. Estão vindo à tona atores sociais, nunca antes considerados, como os sem-terra, camponeses pobres que com sua luta conquistaram  prestígio político para serem recebidos pelo Papa e terem suas demandas repercutidas por ele.
 Há um crime em curso neste país: o crime do silenciamento de suas energias mais criativas pelos aparelhos privados de hegemonia controlados por 9 famílias e recheados de profissionais talvez tolhidos, talvez ignorantes.
Num país em que a concentração fundiária permanece a mesma: 1% dos proprietários de terra detendo 45% do territíorio, boa parte dele de forma irregular, a reforma agrária nunca  poderia ter saído da agenda política   por uma questão de soberania nacional e popular. Nada é mais importante do que isso. Há tanta terra grilada no país que não seria necessário desapropriar um naco dela  para atender a demanda de terra de todo e qualquer cidadão brasileiro que quiser voltar ou escolher viver no campo.
Poucos países  possuem tanto sol e tanto território disponível. Poucos países têm tanta terra degradada!  São cerca de 100 milhões de hectares.
Há pouco tempo atrás, antes da devastação do cerrado ter chegado a esse ponto, poderíamos nos gabar de ter 12% da água doce do planeta e ser um dos 12 países em que mais chovia no mundo. Hoje a nossa potente natureza está demonstrando o seu limite. E se a devastação das florestas para criar boi e do cerrado para plantar soja não cessar, veremos muito mais rios como o São Francisco secando.
É só a eficácia da atuação dos aparelhos privados de hegemonia que pode explicar como o Olívio Dutra pode perder a eleição do Senado para um funcionário da RBS (Rede Brasil Sul de Comuncações), empresa que detém o monopólio midiático no Rio Grande do Sul.
Não é desprezível os efeitos desse trabalho social levado a cabo por profissionais que aprenderam a mascarar sua posição política em um discurso pretensamente objetivo e que controem as representações que dominam o imaginário social de uma coletividade.
Já é hora de encarar este Quinto Poder com a atenção que ele merece.

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