domingo, 28 de setembro de 2014

Mulheres e eleições


Dar voz ao nosso corpo é revolucionário. A maior e mais permanente revolução do século XX foi a Revolução das Mulheres. 
Do Ocidente, é claro. Por que as de alguns países do Oriente ainda estão no século XIX. E por elas, por nós, temos que lutar. Pelas mulheres que perderam a vida por conta de abortos clandestinos temos que lutar e muito. É no mínimo constrangedor estarmos em uma campanha presidencial de novo em que nenhum dos candidatos finalistas assume essa bandeira, apesar de todos os dados acachapantes, até em termos de racionalidade econômica... já que é isso que, no final das contas, todos eles parecem que levam a sério.
Hoje li um Veríssimo genial que me pôs a pensar e a vir escrever coisas nessa tela. É uma parede muito fininha a que efetivamente separa esse Brasil de um destino muito mais vibrante e justo do que o que temos hoje cheio de hidrelétricas inúteis, monopólio fundiário, corrupção endêmica e falsos moralismos. O PT mudou muito este país. Reconheço isso. Mas não soube ter a estatura partidária que este país merece. De qualquer modo, a vantagem do PT no poder é que como ele nunca será confiável para a classe dominante do Brasil, é o mais bem vigiado pelas instituições comandadas por ela. E talvez só o PT mesmo é que consiga abrir caminho para que nossas instituições tornem-se efetivamente republicanas. A PF já foi uma grata surpresa. Mas, essa mania de aparelhar. De colocar nos cargos "os" supostamente confiáveis. Em suma, o foco na sua "parentela política" e a a não valorização de "servidores públicos" de fato, realmente sempre foi e sempre será um tiro no pé.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A China

Tenho um fascínio infantil pela China. Infantil porque começou quando eu deveria ter quatro ou cinco anos, graças à comida chinesa. Íamos a um restaurante no Bairro da Liberdade, em São Paulo. Ir à Liberdade na década de 70 era ir a um outro mundo. A feira, as lanternas vermelhas. Os jornais com letras diferentes.   
E lá íamos no tal restaurante chinês bem na praça. Com paredes de laca e mesas grandes de madeira. Eu tinha nos pratos uma comida colorida e saborosa. E entravam muitos chineses. Famílias chinesas. E iam sempre para o andar de cima do restaurante. Nunca ficavam no térreo, onde nós ficávamos.  Morria de curiosidade de ver o que tinha no andar de cima. Por que eles iam para lá?  Por que nunca íamos.  Imaginava que tinha festas coloridas. Creio.
O que me lembro é que um dia eu resolvi subir as escadas e ver com meus próprios olhos o que havia lá. Imagina, para uma criança pequena subir as escadas de um restaurante era uma aventura e tanto.  E  não é que eu, pé depois de degrau, consegui chegar no penúltimo?  Mas,  um arroubo de vergonha e medo veio e eu, não consegui ultrapassar aquela fronteira imaginária que me lançaria no mundo misterioso daquele povo de olhos puxados.


Depois veio o Henfil na China. E aí a história ficou verdadeiramente séria.