O Brasil é um país refinado em termos musicais. E acaba que nossos grandes nomes são, como em muitos lugares, homens públicos. E é interessante a gente avaliar a trajetória política de nossos ícones. Penso nisso desde que vi o excelente documentário, "Estados Unidos contra John Lennon". Neste filme é possível ver como esse genial beatle foi politizando sua música, concomitante a seu encontro com Yoko Ono, o que explica também porque ela foi tão demonizada: a japonesa que acabou com os Beatles..
Mas vendo esses filme, basicamente se vê que um garoto, filho da classe operária de Liverpool, simplesmente amadureceu aquilo que ele trazia nas entranhas. E com seu talento musical, seu enorme poder de comunicação, colocou sua arte a serviço de suas idéias. E na época, plena Guerra do Vietnã, ele criou um belíssimo fundo musical para as manifestações pacifistas que tomaram conta dos Estados Unidos, ameaçando claramente a reeleição de Nixon.
Hoje sabemos que teria sido bom que o Edgar Hoover, do FBI, não tivesse tanto poder, perseguindo Lennon e Yoko como foram, ameaçados de expulsão. Isso teria poupado os norte-americanos do vexame de reelegerem Nixon e tomarem o Watergate na cara. De qualquer modo, Lennon fez um belíssimo fundo musical para as enormes manifestações pacifistas que inundaram Washington na época e também teve uma contribuição musical importante na luta pela descriminalização da maconha.
Aqui, temos Chico Buarque, filho de um intelectual que é autor de uma obra clássica sobre a formação do Brasil, que tranquilamente abraçou as causas que levantou com elegância e lirismo. E quanto a Gil, já vi nosso grande músico e Ministro da Cultura, com seus "do-ins culturais" cristalizados como energéticos "pontos de cultura" ser homenageado por ministros da Cultura de outros países por seu importante papel na assinatura do acordo internacional em defesa da diversidade cultural patrocinado pela Unesco.
Caetano é nosso polemista. Acho interessante a forma como ele escreve. Me dá impressão de que ele é verborrágico. Escreve como quem estivesse ditando para um gravador. Ás vezes é cansativo. Mas gosto de sua firmeza. Posso não concordar com suas opiniões, mas aprecio ele ser polêmico. A polêmica faz o senso comum entrar em desasossego e provoca que verifiquemos até onde vão nossos argumentos.
Mas o fato, como bem lembrou Gil em uma célebre entrevista para a Carta Capital há alguns anos atrás, é todos eles são hoje classe dominante. E sendo brasileiros, país onde nunca houve uma verdadeira reforma social profunda, eu acho mais nobre os artistas da classe dominante se juntarem aos mais pobres. E o que ocorreu nessas eleições foi que despolitizada ou não... o voto foi claramente de classe.
Os municípios, regiões e estados mais pobres votaram na Dilma. Já os mais ricos, votaram no Serra. Até em uma cidade como o Rio de Janeiro isso tornou-se nítido: a Zona Sul e alguns bairros de classe média da Zona Norte votaram no Serra. Todas as demais regiões, incluindo as zona sul dissidente do Cosme Velho e de Santa Teresa, votaram majoritariamente na Dilme.
Em suma, o PT acabou fazendo o Brasil se dar conta de sua divisão de classe e isso é profundamente politizante. Quem diria, apesar dos pesares, o governo do PT fez aquilo que era sonho do partido em seus primórdios claramente socialistas. Ele fez avançar uma percpeção social e tornar evidente a divisão de classes da sociedade. Os lugares ricos, que sempre ganharam com o padrão vigente, votaram em Serra. Os pobres, cuja qualidade de vida melhorou substancialmente nos últimos anos votaram na Dilma.
Espero que esse trunfo não seja desperdiçado.
Talvez o tempo do Brasil estamental esteja realmente chegando ao fim.
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