terça-feira, 12 de outubro de 2010

Aborto

Gostei de ver que ao contrário do que quer fazer entender o Serra, a Dilma não voltou atrás na declaração que ela deu sobre o aborto à revista Marie Claire no ano passado. Entre prisão e atendimento, ela prefere atendimento. E é isso que tem que dizer alguém que pretenda governar esse país. Ainda mais uma mulher. A luta pelo controle de sua reprodução é uma bandeira fundamental do movimento feminista. A pílula tinha dado essa possibilidade, mas até para tomar pílula as mulheres tiveram que fazer revoluções domésticas. E todos esses movimentos tiveram grandes impactos na vida individual e social de um país como o Brasil.
O debate sobre o aborto tomar proporções morais e religiosas nessa eleição só se explica pela costumeira dupla moral nacional.
Se morrem brasileiras quase todos os dias por conta de abortos mal feitos, digam-me: elas são mulheres, amigas, filhas, irmães de quem? Quem pode ser contra a descriminalização do aborto, tendo um caso desses na família? O debate só fica nesse plano porque o movimento feminista no Brasil é realmente insignificante. Onde vocês estão agora? Por que vocês não se organizam e vão dar plantão em um hospital onde se registrem vários casos desse tipo? Chamar atenção dos números. Das pessoas por trás dessas tragédias absolutamente evitáveis. O ato em si já penaliza muitas mulheres. Em uma sociedade de tradição matrifocal nas classes populares, em suma, onde as mulheres costumam carregar toda o peso da criação dos filhos, é muita hipocrisia esses padres e esses políticos evangélicos terem espaço para dar lição de moral. E as mulheres baixarem a cabeça para isso. Levarem ainda essa culpa. Mais essa.

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