Os cariocas em geral possuem fama de serem “exxxperrrtos”. No entanto, depois deste Carnaval de 2010, cheguei à conclusão que eles são talvez os cidadãos mais otários do Brasil.
Temos que esclarecer que esta situação vigora com a colaboração explícita dos verdadeiros “anestesiantes sociais” que são os meios de comunicação de massa.
Não pude curtir a cidade como foliã, e como moradora, durante o Carnaval, limitei-me a tentar exercer meu direito de ir e vir pela cidade, o que me deu oportunidade de ver o caos do transporte público que a assolava durante estes dias em que esteve lotada e repleta de blocos por todos os lados.
No entanto, a percepção e os transtornos do público não foram parar no jornais, TVs e rádios que trataram com normalidade ônibus lotados emperrados em engarrafamentos, estações de metrô fechadas e a via crucis dos passageiros que tinham que passar uma hora rezando até aparecer um táxi vazio disponível para sua viagem. Basta dar um singelo “Google” para ver que o caos do transporte urbano na cidade não recebeu atenção de nenhuma linha sequer.
Se um evento que faz parte do calendário normal do Rio leva a cidade ao caos, o que podemos esperar dos mega-eventos Copa do Mundo e Olimpíadas no futuro?
A julgar-se pelas manchetes dos jornais, o grande problema do Rio de Janeiro foram os “mijões”, que diante da opção de um banheiro para cada 600 pessoas, se aventuraram a fazer seu xixi na rua e foram sumariamente presos.
Obviamente, ninguém gosta de sentir cheiro de mijo pelas ruas, mas este era de longe um dos menores problemas deste carnaval. Aí é que entra a “otarice carioca”. Como uma cidade que ficou totalmente caótica desde o pré-carnaval pode acordar na quarta-feira de cinzas e julgar que agora tem uma prefeitura que se preze... que está instaurando a ordem... por prender gente mijando nas ruas enquanto o transporte público da cidade estava totalmente caótico e efetivamente atrapalhando o cotidiano tanto do folião como do morador que procurava viver sua cidade sem necessariamente cair no Carnaval.
A verdade é que esse clima é possível de parecer verossímil por que desde que assumiu a prefeitura, o senhor Eduardo Paes vem se notabilizando em “instaurar ordem” onde as coisas meio desordenadamente funcionavam.... e deixar de lado todos os problemas efetivamente estruturais desta cidade.
Como mencionou um taxista logo no início dessa gestão, quando um administrador começa seu governo atacando os mais humildes, os mais fracos, já sabemos onde isso vai parar. Ou seja, factóides contra o Rio informal (camelôs, barraquinhas de praia, mijões de ocasião) que amenizam a sede de alguma governabilidade sensata por parte de setores da população que vivem no Rio formal, enquanto a cidade, de fato, vive um tremendo caos que atinge, isso sim, toda a população e seus desavisados turistas.
E o pior, o Rio informal dos camelôs, barraqueiros e vendedores de praia, etc. em sua aparentemente caótica autogestão funcionava. Rendia uns trocados para os do andar debaixo e. fora alguns excessos, incomodava bem menos do que a falta de uma infra-estrutura urbana minimamente planejada, como é o que de fato ocorre no Rio de Janeiro desde sempre
Já a falta de notícia sobre as arbitrárias decisões de se fecharem estações de Metrô só pode ser considerada normal em uma cidade em que a mulher do governador, responsável pelo serviço, é advogada da companhia que recentemente recebeu um aumento da concessão da exploração da linha para “investir” no transporte. Sim, porque até então, quem investia era apenas o governo estadual... a concessionária tinha apenas que cuidar do serviço... coisa que como vemos nos últimos meses, não tem a menor competência. Mas isso não importa. Merecia tirar a sorte grande e ficar seus trinta anos sugando os lucros desta concessão. Minha curiosidade é ver em 2014 e 2016 como esta sorte grande vai ser vista pelo resto do mundo quando estes estiverem enfrentando caos instalado nesta cidade por conta de suas gangues que administram transporte público como um assunto de família.
A propósito, para completar, convém mencionar que a violência continua também a de sempre... Um casal de jovens turistas holandeses foi assaltado na estrada das Paineiras em seu segundo dia de visita ao Rio. Mesmo sem reagir, o rapaz foi baleado por um assaltante de 15 anos. No mesmo dia, o primeiro do Carnaval 2010, a delegacia de Santa Teresa estava lotada....adivinhe com quem? Os inadvertidos "mijões" deste Carnaval....como se realmente não houvesse nada mais importante para ocupar a polícia desta cidade.
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