quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Honduras e a tacanhice da mídia brasileira

Talvez não tenha surgido caso tão emblemático da tacanhice da mídia brasileira do que a cobertura que o PIG (Partido da Imprensa Golpista) está dando para o caso de Zelaya, hoje abrigado na Embaixada Brasileira localizada na capital do país para o qual foi legitimamente eleito presidente. Pretendendo uma suposta objetividade , acabei de ver a jornalista da Record entrevistando, ou melhor, metralhando o chanceler Celso Amorim sobre a "intervenção" do governo brasileiro nos assuntos internos de Hondura.
A mulher chegava a estar nervosa. Mal disfarçando uma certa raiva expressa nas perguntas que fazia, obrigou Amorim repetir mais de uma vez que, para o Brasil e toda a comunidade internacional, o presidente legítimo de Honduras era Zelaya, o que justificava o fato de a Embaxada Brasileira em Tegucicalpa ter aberto as portas para abrigá-lo. A insistência da jornalista em afirmar os pontos de vista dos que indisfarçavelmente consideram que o governo de Micheletti tem algum traço de legitimidade acabou fazendo Amorim dar a entender que esse tipo de questão só a mídia brasileira vinha colocando.
Eis um exemplo de como o rapto do horizonte social é feito na sociedade brasileira por uma mídia tacanha que já há algumas décadas patrocina golpes de formas variadas.
Mas poucas vezes a sociedade consegue se dar conta disso. São poucos os momentos que eles se auto-denunciam com tanta veemência. É só porque a comunidade internacional está do lado do Brasil que isso fica evidente.
Enquanto não houver "pluralismo regulado" na mídia brasileira não se pode falar que existe liberdade de imprensa. Segundo a definição de John Thompson, trata-se do estabelecimento de uma estrutura institucional que abriga e garante a existência de uma pluralidade de independentes organizações de mídia. É um princípio que leva a sério a tradicional ênfase liberal na liberdade de expressão e na importância de sustentar as instituições de mídia independentemente do poder do estado. Mas é um princípio que também reconhece que o mercado deixado a si mesmo não pode garantir necessariamente as condições de liberdade de expressão e promover a diversidade e o pluralismo na esfera da comunicação.
"O princípio sugere a descentralização dos recursos nas indústrias da mídia: a tendência para uma crescente concentração de recursos deveria ser controlada e se deveriam criar condições tanto quanto possíveis, para o crescimento de independentes organizações de mídia. Isto exige não somente uma legislação restritiva – isto é, que limite as fusões e outros tipos de cartéis entre as indústrias da mídia – mas também uma legislação que crie condições favoráveis para o desenvolvimento de organizações da mídia que não façam parte dos grandes conglomerados já existentes.
A intervenção legislativa nas indústrias da mídia deveria ser vista não comente como meio de truncar o excessivo poder dos grandes conglomerados, mas também como meio de facilitar o desenvolvimento de novos centros de poder simbólico fora da esfera de controle dos conglomerados e de suas redes de produção e intercâmbio".
Enquanto a mídia brasileira for propriedade de umas 10 famílias com interesses altamente vinculados aos grupos economica e politicamente dominantes, aspectos da realidade brasileira e do nosso horizonte social simplesmente não irão fazer parte do dia a dia da população e não teremos como amadurecer como sociedade, discutindo os problemas que realmente interessam. Vamos simplesmente continuarmos "presas" dos golpes simbólicos aprontados pelos funcionários dessas organizações.

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