Drancy é a estação de trem da qual foram deportados mais de 70 mil judeus para os campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.
Hoje fui até lá, sem saber dessa triste memória, para assistir a um debate em um “banlieu” dos quentes daqui de Paris, que fica próximo dessa estação: Blanc-Mesnil.
O dia estava chuvoso e frio. Era um aparente “programa de índio”, mas achei que valia a pena aproveitar a oportunidade para conhecer um dos cenários dos famosos levantes de novembro de 2005, onde uma amiga minha jornalista, edita um jornal local, justamente o tema do debate de hoje.
Sim, na época dos quebra-quebra e incêndios cotidianos, minha mãe exprimiu uma opinião lúcida e certeira que me deixou pensando alguns meses. Ela simplesmente achava completamente normal isso estar acontecendo: “as barricadas não começaram na França?” Pois bem, todo esse mal estar existente hoje em torno da imigração na Europa tinha que obviamente estourar aqui. Onde mais?
Não por acaso, esse jornal, chamado “Vu d’ici” (Visto daqui), tem justamente o objetivo de mostrar o ponto de vista deles, dos moradores desse bairro popular, que vivenciaram um profundo mal-estar com a maneira como foram retratados pela mídia em geral durante os tais eventos.
O jornal é bonito, bem editado e aberto a todo mundo que queira colaborar, expressar sua opinião ou descrever algo que considera importante. Obviamente, os textos passam por um copy-desk da redatora-chefe, minha amiga, Marina da Silva.
Mas o debate de hoje foi muito mais do que o jornal. Simplesmente, vi encenado na minha frente, com toda a sua força e através da voz de uma das populações mais desfavorecida desse país, um retrato muito claro do que é essa chamada “cultura política francesa”.
Apesar de todos os pesares, esse país onde três quartos de sua população ( que usa internet...) abre um livro todos os dias...tem muito o que ensinar...Sim, eles inventaram as barricadas e, felizmente, continuam em guarda.
Mais ou menos é esse mesmo o objetivo desse blog... dividir com quem se interessar, minhas impressões sobre esse “sejour” em Paris, onde, além de aproveitar as bibliotecas e museus tenho por objetivo aprender com essa história... que pode ser de grande utilidade para o Brasil, afinal nessa área a gente anda em falta. Afinal, além da Revolução Francesa, de 1848, da Comuna de Paris, eles tiveram justamente um maio de 1968.
Por outro lado, no meio do debate candente que eles estão vivenciando sobre suas "minorias visíveis".. acho que podemos dar uma ajuda...
Obviamente, somos os piores do mundo em integração social, mas na cultural, acho que desenvolvemos uma receita mais ou menos interessante.
Espero, através desse blog, justamente objetivar e costurar essas reflexões com a minha experiência "francesa"..
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